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Joao Di Souza

Ao que parece, sua aproximação para com o mundo vegetal e, consequentemente, para com a natureza, remonta à infância. Vivida na Bahia de Todos os Santos, em meio aos remanescentes de mata atlântica (entremeados por fazendas de cacau), tal infância também convidava o jovem menino a contemplar sua exuberância. Com isso não se afirma que a primeira impressão é aquela que fica: no trabalho pictórico de João, tamanha é a permanência do elemento fitomórfico, seria fácil justificá-lo a partir de seu apaixonamento pelo mundo das plantas desde o ponto de partida de sua trajetória.
Ocorre que a resolução de sua pintura não acontece segundo a precisa observação da natureza, nem dela recolhe mais que um mero ponto de partida. Seu interesse parece ser o tensionamento, a transmutação dos elementos vegetais (ou a eles assemelhados) em formas mais ou menos expressivas. Sem nenhum comprometimento com a ideia de paisagem, aqui precariamente definida como enquadramento que recorta uma determinada parcela de mundo (natural e/ou humano), sua prática está mais próxima do arranjo e do agrupamento. O que interessa é tomar o elemento natural como motif, e manejá-lo no intuito da composição formal. A tela não é construída como um feixe, mas pensada como superfície que deve ser preenchida pela volúpia vegetal.
Fazem parte de seu processo a fotografia de canteiros urbanos, a observação das plantas na cidade, o interesse irrefreável pelo verde e pelas tonalidades abertas. Não à toa, de frente a seu ateliê, situado na Av. Nove de Julho, no centro da cidade de São Paulo, há um singelo jardim feito pela união de múltiplos vasos. Um jardim feito sobre a calçada e à beira do asfalto, num verdadeiro vale de concreto - onde as montanhas são os arrimos e prédios que margeiam a grande avenida. Num arroubo vegetal que lembra Giuseppe Arcimboldo (1526-1593), embora sem nenhum interesse antropomorfo, João constrói um artificial com elementos de extração natural. Tal como o jardim urbano e o canteiro, vemos a pretensa liberdade vegetal presa no interesse da civilização interesse que passa, inclusive, pela volúpia e pelo senso decorativo.

Por: Galeria Zilda Fraletti

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