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Ana Teixeira

Ana Teixeira (Caçapava, São Paulo, 1957). Artista visual. A pesquisa da artista é um ato coletivo que se cria a partir da troca com o outro. Seus trabalhos têm início a partir de uma ação feita na rua para público amplo nem sempre interessado em arte. A obra é um resultado desse acontecimento, do encontro da arte com as pessoas nesses espaços, sendo a palavra um dos recursos mais importantes utilizados.

A primeira faculdade que Ana Teixeira se interessa em cursar é de Serviço Social. Não chega a concluir o curso mas a escolha ainda jovem por essa profissão já denuncia o seu interesse pelas pessoas e por escutar o que elas têm a dizer. Aos 37 anos, entra para Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais, a fim de estudar artes visuais. Ao se fixar em São Paulo, dois anos mais tarde, acaba concluindo a graduação na Universidade de São Paulo (USP), onde na sequência dá início ao mestrado em Poéticas Visuais, que resulta na dissertação Trocas: a arte na rua e a rua na arte (2005), na qual estuda seus trabalhos em que faz intervenções em espaços públicos. 

Troco Sonhos, sua primeira intervenção, é realizada pela primeira vez em 1998 no Viaduto do Chá no centro de São Paulo. O trabalho acontece na rua quando a artista monta uma mesa com a oferta: “Troco sonhos. Aceito todos os tipos: dourados, esquecidos, abandonados, vivos, mortos, presentes ou enterrados”. Em troca, a pessoa que deu o seu sonho recebe um outro - nesse caso, o doce muito conhecido no Brasil. O trabalho de Teixeira ocorre nessa troca direta com o espectador em um ambiente fora dos costumeiramente direcionados à arte e para um público não-especializado. 

Esse trabalho de escuta é recorrente em outros projetos como em Escuto Histórias de Amor (2005-2013), que foi realizado em diversos países. Ao fazer a ação na Alemanha, interessa-se em escutar as histórias mesmo que não entenda uma palavra de alemão. No entanto, ao perceberem que ela não fala o idioma, começam a falar em inglês. Assim, a artista percebe que as pessoas querem ser compreendidas - e não apenas ouvidas. Sobre o registro na memória, contudo, Teixeira afirma não se lembrar de todas as histórias confessadas a elas. A materialização dos casos de amor ouvidos ficam eternizados no tricô vermelho de mais de nove metros, que tece enquanto escuta os relatos.

A relação do trabalho da artista com a rua e com os participantes da sua obra se enquadra dentro do conceito de estética relacional teorizado pelo filósofo francês Jacque Rancière (1949) e sendo Hélio Oiticica (1937-1980) um dos expoentes. Não há  interesse em criar uma obra material com suas ações artísticas mas provocar uma situação em que as pessoas possam observar as possíveis falhas do mundo. Como a própria artista costuma dizer: "O que me interessa mesmo é causar um pequeno curto-circuito na realidade"1. E, a partir da estranheza causada ao passar por uma situação urbana arquitetada pela artista, espera-se como reação que o participante desenvolva algum pensamento, reflexão ou, às vezes, irritação. 

Em Outra Identidade (2003) - em que propõe aos passantes que eles carimbem sua digital em um caderninho em troca de uma identidade nova com dizeres como: "falo mentiras", "não faço sentido" ou "tenho sonhos" - Teixeira foi denunciada à polícia com a suspeita de estar recolhendo digitais para falsificar documentos. Depois de alguns minutos na delegacia, sem precisar dizer que estava fazendo um trabalho de arte, resumindo-se apenas a explicar a sua situação literalmente, a artista foi liberada e a notícia de sua detenção foi parar nos jornais. Não no caderno de cultura, mas no Cotidiano, voltado para notícias da cidade, do jornal Folha de S. Paulo. O fato exemplifica exatamente onde e para quem o trabalho da artista acontece: no território urbano e para os seus habitantes.  

A palavra é outro componente importante da obra de Ana Teixeira. O jogo de significados e de aproximações entre termos compõem o sentido poético e filosófico das ações. Em Nós em mim (2012-2019), a artista estampa adverbios em bóias de piscina que podem ser conectadas por uma corda e formar frases como "agora nunca mais", "sempre não" ou "menos sim" - são centenas de milhares de possibilidades. Os usuários das piscinas onde é instalado o trabalho têm nas bóias um equipamento de segurança para não se afogar na água e nas palavras um salva-vidas da realidade. 

A partir da questão proposta para mulheres “O que você não quer mais calar?” nasce o trabalho Cala Boca Já Morreu (2019-2021). Ao conversar com as participantes, a artista as ajuda a chegar a uma frase que sintetize o que ela não deseja mais esconder.  Ana Teixeira desenha a frase em um cartaz, entrega à participante que depois é fotografada. Essas fotos são referências para desenhos que a artista cria depois. No caso da montagem de 2021, na Biblioteca Mário de Andrade em São Paulo, o trabalho, em vez de desenhos, ganhou uma instalação sonora dessas frases recolhidas nas conversas e gravadas por 101 mulheres cisgêneros, transexuais e travestis. A biblioteca, geralmente um local de recolhimento e silêncio, foi transformada em megafone ressonante para dar voz a esses grupos historicamente silenciados pela violência física e simbólica de uma sociedade patriarcal. 

Ana Teixeira desenvolve um trabalho que se utiliza de diferentes suportes e manifesta particular interesse pelo desenho e a palavra. O seu principal foco é a arte participativa e ações artísticas em espaços públicos.

Por: Multiplos ARTSOUL

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