

Exposição individual "Lugares Outros", de Claudio Barros
Exhibition
- Nome: Exposição individual "Lugares Outros", de Claudio Barros
- Abertura: 18 de março 2025
- Visitação: até 19 de abril 2025
- Galeria: Casagaleria E Oficina De Arte
Local
- Local: Casagaleria
- Online Event: No
- Endereço: Rua Fradique Coutinho, 1216 – Pinheiros
LUGARES OUTROS
CLAUDIO BARROS
Por Artur Cole
Eu conheço Claudio Barros há mais de 40 anos.
Foi no projeto Enturmando 1 (1989) da Secretaria do Menor, do Estado de São Paulo, que oferecia aulas de circo, artes plásticas, teatro, música e reforço escolar + almoço, nas comunidades de Vila Penteado e Vila Brasilândia.
Eu era o diretor e o Claudio, arte-educador em artes plásticas.
Ele já era pintor e procurava uma experiência nova nessa região tão desassistida.
Na construção de sua existência, ele já incluía pintura, educação e sua preocupação social por um mundo melhor.
Hoje, com maturidade e vivências em arte e educação, calcadas por princípios sociais sólidos, ele, como artista, elaborou uma obra pictórica singular, expressiva e criativa.
Apresentando um projeto poético que alia questões técnicas com soluções muito pessoais, com preocupações morais e sociais, inscritas no lugar em que vive, nesse nosso tempo, dando ênfase às experimentações urbanas e à presença da cidade.
Desde jovem, na companhia do artista plástico Carlos Scliar, que provavelmente é sua influência mais importante, obteve uma formação fundante em muitos aspectos: responsabilidade com a carreira, ética na relação com o trabalho e com o mundo à volta.
A meu ver, a colagem e a fragmentação estão muito presentes na sua obra.
Desde a concepção, conceitual e formal, da recolha de materiais pela cidade, sejam imagens ou cenas, até objetos de madeira descartados nas ruas, assim como o uso da fotografia.
Esse seu material humano, no decorrer do processo do fazer, vai se concretizando em pensamentos que entram na pintura, expondo, de forma contemporânea, seu talento, seus instintos, suas técnicas, suas ideias e desejos.
Claudio valoriza seus instintos, que impulsionam seu fazer. Seus instintos dizem para pintar isso.
Suas atitudes são de resistir, insistir e existir.
Ser, cuidar de si, ser-com-os-outros.
O que vemos são os resultados desse seu fazer-dizer.
Um trabalho poético que revela descobertas, afirmações, buscas.
Um movimento vital do vigor da criação.
Nesse processo rico e complexo, o artista afirma o seu ponto de vista. O seu modo de perceber e de expor seu processo para os outros. Nessa mesma direção da colagem, nesse seu fazer-dizer-poético, ele vem desenvolvendo as marcas dos objetos e fragmentos que encontra, as histórias, os afetos e memórias, que vão se misturando com suas próprias memórias e afetos dos lugares que percorre.
Nas suas palavras: “Eu lido com os cacos dos outros, assim como as imagens que elaboro a partir de fotografias, que são provenientes da cidade sem glamour”.
Claudio está na direção de investigar uma estética da gambiarra, do vernacular, que é o da desmontagem para uma remontagem, da convivência dos diferentes, dos contrastantes. Claudio diz que seu trabalho é decolonial e quer mostrar uma insatisfação com o que está aí.
“Eu faço desobjetos.”
Ouso dizer que o trabalho do Claudio se origina no caldo histórico das nossas artes plásticas, do período moderno, sob pontos de vista conceituais brasileiros, como a antropofagia cultural, e uma maneira própria de operar a fenomenologia da percepção.
“Conceitos construídos por artistas brasileiros, tais como a antropofagia cultural, num processo original, próprio do modernismo brasileiro, desenvolvido, entre outros, pelo escritor Oswald de Andrade (1890-1954) e pela pintora Tarsila do Amaral (1886-1973) e a imantação da artista experimental Lygia Pape (1927-2004) --- (Paulo Herkenhoff – catálogo da exposição de Francis Bacon no Masp – A Beleza da Carne - 2024).”
Num período posterior, podemos situar na antropofagia uma enorme variedade de artistas, envolvendo nomes como Lygia Clark (1920-1988), Hélio Oiticica (1937-1980), Cildo Meireles (1948), dentre outros.
Em um texto escrito pelo próprio artista, intitulado “Desobjetos em Confluências” (março de 2024 - São Paulo), ele cita o escritor Antonio Bispo dos Santos – o Nego Bispo –, como influência, sobretudo no exemplo de um fazer poético. Assim como os nossos povos originários, Nego Bispo se afirma confluente contra o individualismo, vítima de uma cosmofobia: “O confluente diz respeito ao encontro de parcerias que incluem pessoas e a natureza, os bichos, as plantas, os rios, as montanhas e um modo de vida que envolve e cria movimentos entre aqueles que confluem.”
Escreve Claudio: “Encontrei uma forma de dizer da minha noção de estética, do meu envolvimento, da percepção de maravilhamento com a vida e da minha insatisfação com aspectos da realidade, que também me afetam.”
“Quero afirmar realidades existentes, fazer pintura, que tem uma tradição grande na cultura europeia, mas é maior que ela. Mas essa tradição também é minha, não só, mas também, e é dentro dessa tradição da pintura que eu me coloco como pintor, um pintor de um país subdesenvolvido, um pintor de um país colonizado, mas que quer mostrar uma insatisfação.”
“Meu trabalho tem dois afetos.
O primeiro é o suporte, que se desenvolve e se torna uma construção, numa poética de gambiarra, com que intenciono dialogar com todas as gambiarras, dos jeitinhos, do fazer o possível com o que se tem na hora. Construo com o que encontro (materialmente, espiritualmente, vitalmente), sem um projeto definido, sem uma ordem, busco mesmo a desordem, a desfiguração do objeto que o material encontrado foi um dia, mas não apago suas marcas de sofrimento. Construo estruturas de gambiarra, com muita elaboração, mas com pouco esmero, sem virtuosismos.
Daí vem o segundo afeto, que na verdade é o primeiro, porque tudo é em função deste. Esse afeto é a pintura que nasce no olhar, que é feita de cor, de textura, de volumes, de formas, de massas, de contrastes, de harmonias, etc., que dialogam de perto com imagens e fragmentos de cenas recolhidas com fotografia de cantos da cidade.
Como a figura literária da metonímia, que fala do todo pela parte.
Crio (num pretenso cinema de pintura) sequências improváveis, unindo por proximidade lugares, cenas que combinam sem se combinar. São cantos irrelevantes, ordinários e belos, às vezes absolutamente não pictóricos – não pitorescos – e tento mostrar que é possível torná-los pintura.
Acho que somos confluentes, porque trato de afirmar um ponto de vista, que cria uma relação de lugares outros, divergentes, insistentes, resistentes, na perspectiva de reexistência.”
Claudio Barros, um artista pintor, maduro e sensível, criando reflexões poéticas para todos nós. Um pintor do seu tempo, afirmando a pintura, hoje, como linguagem contemporânea, com sua postura experimental, vivenciando sua cidade como contexto, recolhendo e transformando seu material humano em arte.
Artista consciente desse nosso momento histórico, tão importante quanto vital.
Um fazedor de arte que a sociedade e a natureza tanto necessitam.
Um ser que, no seu movimento, cria movimento no conjunto de forças em ação, trabalhando no imponderável, no impalpável, no mistério, no sombrio e na luz.
Um ser-com-os-outros que afirma sua humanidade, assim como a nossa humanidade.
ARTUR COLE
BOIÇUCANGA, ABRIL DE 2024 / FEVEREIRO DE 2025
Service
Exposição "Lugares Outros"
Claudio Barros
Abertura: 15 de março de 2025, sábado, das 13h às 17h
Curadoria: Loly Demercian
Texto crítico: Artur Cole
Exposição: 18.03.2025 – 19.04.2025
Casagaleria
Rua Fradique Coutinho, 1216 – Pinheiros
São Paulo – SP
Seg. a sex.: 13h às 19h
Sáb.: 13h às 17h